sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

HISTÓRIAS DO CEMITÉRIO DO CATUMBI PARTE 9 (de 13) por Francisco Souto Neto.

HISTÓRIAS DO CEMITÉRIO DO CATUMBI
PARTE 9 (de 13)

Francisco Souto Neto

A obra biográfica Visconde de Souto: Ascensão e “Quebra no Rio de Janeiro Imperial”, escrita em coautoria por mim e minha prima Lúcia Helena Souto Martini, conta com um APÊNDICE em sua parte final, da página 457 à 510, subintitulado O Cemitério do Catumbi, no qual faço o relato do que foi a minha luta desde o ano de 1969 – há quase meio século –  pela preservação do setor histórico da referida necrópole do Rio de Janeiro, onde estão sepultados os mais importantes vultos históricos do Brasil Imperial.
O Apêndice conta com 13 capítulos. Este é o 9º capítulo do Apêndice.

APÊNDICE

O CEMITÉRIO DO CATUMBI:
DEPOIMENTO DE FRANCISCO SOUTO NETO

9

SETEMBRO DE 1986 – RETORNO AO CATUMBI


Retornei ao Catumbi em setembro de 1986. O setor 2, onde se encontra sepultada a viscondessa de Souto, estava relativamente em ordem. Mas o setor 1, o mais antigo, estava outra vez tomado pelo matagal. Avistava-se o topo de uma única capela acima da vegetação.
Impressionou-me que, no espaço de apenas onze meses da minha ausência, a vegetação recrudescesse com tamanho ímpeto. O Jornal do Brasil classificara aquele vegetal de “capim-seda” que, se não capinado, alcança grande altura.
Levei comigo um marmorista e outro profissional para remover o entulho e os mármores quebrados do túmulo do visconde de Souto, e também tomar as medidas para cobri-lo com uma grossa campa de granito, sobre a qual seria colada a lápide restaurada e um texto, da minha autoria, a respeito da ruína do túmulo original.
Fiz várias fotografias das atividades dos profissionais no local, e igualmente da degradação cada vez maior dos jazigos adjacentes e até do muro que tentava conter o ingresso de ladrões e vândalos provenientes da favela vizinha. A necrópole estava outra vez sendo dominada pelo mato.
Pedi ao administrador do cemitério que informasse ao presidente da Venerável Ordem, o monsenhor Abílio Ferreira da Nova que eu retornaria ao Rio dentro de pouco tempo para verificar o estado do túmulo reconstruído do visconde de Souto e que, se me sentisse outra vez impedido de caminhar pelas ruas do cemitério pela persistência do mato, iria ao seu gabinete, acompanhado por repórteres, para entrevistá-lo a respeito.
Protestei, ameacei, mas me senti desestimulado. Se o IPHAN desejava tombar o cemitério, iria preservar o quê? Um ou outro túmulo em meio a montes de cacos de mármore perdidos, misturados a ossos que por ali ainda estavam esparramados entre restos recentes de dejetos humanos? Seria exequível a reconstrução de algo tão completamente aniquilado?
O setor 1 do Cemitério do Catumbi atentava contra todos os princípios de civilidade. Se não puder ser reconstruído, pensei eu, seus fragmentos tornar-se-ão um símbolo da falta de respeito das indignas autoridades de um país sem face.

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Situado ao nível da rua, a parte nova do Cemitério São Francisco de Paula (mais conhecido como Cemitério do Catumbi) sempre foi muito bem cuidada.

 
Francisco Souto Neto (acompanhado de dois marmoristas) na parte baixa do cemitério.

 
Subindo as escadas e olhando para trás, ao fundo fica a entrada do cemitério.

 

Ao início do setor histórico, localiza-se o túmulo da Viscondessa de Souto. Observe-se o túmulo ao lado direito, todo quebrado.


A lápide do túmulo da Viscondessa de Souto.

Imediatamente acima do túmulo da Viscondessa de Souto, está o de um dos seus filhos, Manoel José Alves Souto.

Vista do setor 2, com túmulo da Viscondessa de Souto. Mais acima, o setor 1, ao lado da favela, eu iria encontrá-lo em estado precário.


Na rua do túmulo da Viscondessa, o túmulo do Marechal do Exército Barão de Villa Bella, que ameaça ruir.

 
O túmulo do Marechal Barão de Villa Bella num equilíbrio muito delicado.

 
A escadaria que leva ao setor 1, o mais antigo, onde está o túmulo do Visconde de Souto.

 
No caminho, encontro três funcionários da prefeitura, fazendo a desratização do cemitério.

 
A favela lateral.

Um dos raros túmulos que ainda mantém o busto da pessoa ali enterrada.

 
Entrando no setor 1, onde está o túmulo do Visconde de Souto.

 
Túmulo violado, vizinho ao do Visconde de Souto.

 
O túmulo desabado do Visconde de Souto no meio do matagal.

 
Os marmoristas começam a limpeza do túmulo desabado.

 
Os marmoristas mexendo no túmulo desabado.

 
A estátua que se avista ao centro da foto é do túmulo da Marquesa de Olinda. Por incrível que pareça, os marmoristas estavam trabalhando no túmulo do Visconde de Souto, exatamente ao lado, sem serem vistos. Assim pode-se perceber a altura do matagal.

 
Andando pelos arredores, encontro outro túmulo desabado.

 
Algumas sepulturas não identificadas na parte mais alta do setor 1.

 
Os marmoristas conseguem juntar os pedaços da lápide original do Visconde de Souto, para colocá-la no novo túmulo.

 
Os números indicam: 1 – Túmulo do Marquês de Olinda. 2 – Marquesa de Olinda. 3 – Túmulo do Visconde de Souto, desaparecido no mato.

 
O estado do túmulo do Marquês de Olinda.

 
Triste aspecto das sepulturas.

Ao fundo do cemitério, o muro (meio escondido pelo mapa) que detém a expansão da favela sobre o cemitério.

 
Aranhas impedindo a caminhada até ao muro da favela.

 
O muro que tenta deter a expansão da favela.

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CONTINUA NA PARTE 10

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