sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

HISTÓRIAS DO CEMITÉRIO DO CATUMBI PARTE 7 (de 13) por Francisco Souto Neto.

HISTÓRIAS DO CEMITÉRIO DO CATUMBI
PARTE 7 (de 13)

Francisco Souto Neto

A obra biográfica Visconde de Souto: Ascensão e “Quebra no Rio de Janeiro Imperial”, escrita em coautoria por mim e minha prima Lúcia Helena Souto Martini, conta com um APÊNDICE em sua parte final, da página 457 à 510, subintitulado O Cemitério do Catumbi, no qual faço o relato do que foi a minha luta desde o ano de 1969 – há quase meio século –  pela preservação do setor histórico da referida necrópole do Rio de Janeiro, onde estão sepultados os mais importantes vultos históricos do Brasil Imperial.
O Apêndice conta com 13 capítulos. Este é o 7º capítulo do Apêndice.

APÊNDICE

O CEMITÉRIO DO CATUMBI:
DEPOIMENTO DE FRANCISCO SOUTO NETO

7

OUTUBRO DE 1985 – DECEPÇÕES


No mês de outubro do mesmo ano, 1985, retornei ao Rio de Janeiro especialmente para conferir o estado do Cemitério do Catumbi, decidido a providenciar as necessárias restaurações.
Na ocasião, a atriz Mercedes Pilati, minha amiga então residindo no Rio, acompanhou-me ao Catumbi e subimos juntos ao setor histórico da necrópole, que estava relativamente limpo, sem matagal. Para minha decepção, encontrei o túmulo do visconde de Souto totalmente destruído, aos pedaços, ao rés do chão. Tentei salvar alguns fragmentos do mármore esculpido, em vão. Eram muito pesados, e eu e minha amiga conseguimos apenas ajeitar os pedaços na cova. Em meio a este infortúnio, um momento de alegria: a lápide tinha poucas rachaduras. Recolhi tais pedaços e preservei-os.
Apesar da “limpeza” efetuada, o cemitério estava todo depredado. Mármores esculpidos com a delicadeza de renda tinham desaparecido. O jazigo do marquês de Olinda, semidesabado sobre ele mesmo, é apenas um dos exemplos que na ocasião fotografei para documentar a crescente degradação da necrópole.
Outro detalhe muito estranho foi que uma vasta área localizada ao sul do cemitério estava com a terra recentemente revolvida como que por um trator, ou outro veículo pesado. Imensas lápides e paredes inteiras de túmulos lá estavam meio encobertas pela terra remexida. Disseram-me, depois, que “o cemitério pretendia lotear aquela área”. Tirei algumas fotografias para documentar a devastação e comuniquei ao administrador que brevemente retornaria ao Rio para a reconstrução da campa do jazigo.
De volta a Curitiba, enviei uma longa carta ao Jornal do Brasil, que foi publicada na íntegra, na página 10 do primeiro caderno, na sexta-feira de 1º de novembro de 1985, seção Cartas, aqui transcrita em apenas alguns trechos:
Cemitério / Ao início do ano em curso, em visita ao Cemitério do Catumbi [...] fiquei chocado com o seu estado de abandono e depredação. [...] O JORNAL DO BRASIL foi o primeiro a apoiar minha denúncia, mobilizando uma equipe de repórteres para constatar, “in loco”, a situação da antiga necrópole, publicando grande reportagem sobre o assunto na sua edição de 7/4/1985. [...] Foram 14 as manifestações de jornais brasileiros, e todas elas encaminhei junto a minha denúncia à SPHAN e a outras autoridades. [...] No começo deste mês estive no Rio e fui recebido pelo arquiteto Dr. Umberto Napoli, da SPHAN, que me exibiu a espessa pasta contendo a minha denúncia, que deu início aos estudos visando (efetivamente) ao tombamento do setor histórico do Catumbi. Já estão no papel os planos de reurbanização, restauração e até arborização da antiga necrópole; e assegurou-me o arquiteto que, num curto período de tempo, o tombamento pela SPHAN será uma realidade. Causou-me surpresa constatar que inexiste qualquer processo, na SPHAN, para o referido tombamento, e que tal processo se iniciou só a partir da minha denúncia. [...] O apoio que recebi de seu prestigioso jornal foi fundamental para que a SPHAN se sensibilizasse com a questão e encaminhasse os estudos pró-tombamento com tanta determinação, como vem fazendo. [...] Dr. Francisco Souto Neto – Curitiba, PR. (Cemitério. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1º nov. 1985. 1º caderno, p. 10).



O recorte do Jornal do Brasil com minha carta.

-o-

NOVAS FOTOGRAFIAS NO CEMITÉRIO:

À esquerda, a atriz Mercedes Pilati, amiga de Francisco Souto Neto, que o acompanhou ao Cemitério do Catumbi. Atrás de Mercedes, no Setor 2, o túmulo da Viscondessa de Souto com sua capelinha característica. À direita, o túmulo da Viscondessa entre os demais, encimada pela cruz neogótica e a seta de coroamento.

 
Uma tremenda decepção e lástima: no Setor 1, Francisco Souto Neto e Mercedes Pilati encontram o túmulo do Visconde de Souto desabado. A solução foi contratar um marmorista para recuperar a lápide e construir um novo túmulo, o que aconteceria no ano seguinte de 1986.

 
Na área à esquerda do setor histórico (quadros 1 e 2), Francisco Souto Neto descobriu uma situação muito estranha: naquela extensa área havia vestígios da passagem de trator, e viu enormes pedaços de túmulos entre a terra revolvida. A foto à esquerda mostra um dos monumentos (mausoléus) ainda intacto e à direita um imenso pedaço de mármore esculpido, misturando-se entre restos de túmulos despedaçados. Em 1986 ainda não existia a internet, de modo que, morando no Paraná, não era fácil descobrir o que se passava no Cemitério do Catumbi do Rio de Janeiro; entretanto, as informações  recebidas na época foram as de que a irmandade proprietária do cemitério tinha interesse em ver os setores mais antigos da necrópole destruídos, porque assim poderia lotear o terreno para a construção de outras novas sepulturas.

-o-

CONTINUA NA PARTE 8

Nenhum comentário:

Postar um comentário