PORTAL IZA ZILLI
Iza Zilli
10 de
setembro de 1864, a QUEBRA DO SOUTO, 152 anos depois.
Francisco Souto Neto
No dia 10 de setembro de 1864 ocorreu a chamada “a catástrofe”, que foi a falência da casa bancária do Visconde de Souto na capital imperial, que arrastou em sua queda alguns outros bancos e mais de cem grandes, médias e pequenas empresas. Essa falência foi noticiada através do mundo, até mesmo na Austrália. O passivo da “Casa Souto”, como era popularmente chamado aquele estabelecimento bancário que concorria com o Banco do Brasil em carteira de depósitos, com perto de 10.000 credores e passivo de 6.350.000 libras, equivalia à metade da dívida interna bruta do Brasil da época.
António José Alves Souto, o Visconde de Souto.
Esse episódio, que na história
financeira do nosso país é conhecido como “Quebra do Souto”, foi tema de
estudos que eu e minha prima Lúcia Helena Souto Martini desenvolvemos durante
sete anos, nas nossas pesquisas que envolveram a biografia de nosso trisavô
Antônio José Alves Souto, o Visconde de Souto (1813-1880), que intitulamos
“Visconde de Souto: ascensão e ‘quebra’ no Rio de Janeiro imperial”. A
bibliografia deste livro que infelizmente continua inédito, consta de 620
títulos consultados.
Lúcia Helena Souto Martini, coautora
com Francisco Souto Neto.
O “sim” da Lei Rouanet e o “não” da Caixa Econômica Federal e da Fundação Cultural de Curitiba.
Ao encerrarmos a obra que escrevemos
em coautoria, contratamos a Unicultura Soluções Culturais, de Curitiba,
dirigida por Ricardo Trento, para enquadrar o projeto à Lei Rouanet e buscar
patrocínio. O projeto foi aprovado, com publicação no Diário Oficial da União.
Tudo parecia transcorrer como era de esperar, até que nos deparamos com um
empecilho: o patrocínio. Segundo me informou Trento, as empresas diziam-se já
comprometidas com a totalidade desses recursos. Um endereço que parecia certo
era a Caixa Econômica Federal, por estes motivos: o Visconde de Souto fez parte
da primeira diretoria da Caixa, as dez primeiras reuniões foram feitas em sua
residência, três presidentes daquela instituição renunciaram – o primeiro deles
sem comparecer a nenhuma reunião – enquanto o Souto permaneceu mantendo o
equilíbrio das reuniões. Na hora de ser inaugurado o espaço que abrigaria a
diretoria e a primeira agência da Caixa Econômica, o governo imperial não
liberou recursos. O Visconde de Souto resolveu o problema, oferecendo auxílio
do seu próprio bolso, obtendo os móveis (mesas, cadeiras, poltronas) na Câmara
dos Deputados para acomodar funcionários e clientes , e ele fiscalizou
pessoalmente a reforma do espaço, possibilitando assim a inauguração da Caixa.
Vale lembrar que esses homens abnegados que fizeram parte das primeiras
diretorias, nada recebiam pelos serviços prestados. Era um trabalho exercido
ars gratia artis. Tudo isto está exaltado e com muitos agradecimentos ao
Visconde de Souto nas primeiras atas da atual CEF, arquivadas no Museu de Caixa
em Brasília.
Como Ricardo Trento teria que ir a
Brasília tratar de assuntos da sua ONG, aproveitou a oportunidade para levar à
CEF uma edição artesanal da biografia – que na imprensa chamamos de “boneco” –
e tentou obter o patrocínio. Mas o funcionário de origem nipônica que o
atendeu, simplesmente disse-lhe do posicionamento da Caixa: estava com os
recursos já comprometidos. Mostrou-se
insensível e ingrata, sem nenhuma consideração ao fato de ela existir graças ao
empenho do Visconde de Souto na sua criação.
Trento deu-nos uma nova esperança: a
de enquadrar a obra na Lei Municipal de Incentivo à Cultura, e assim foi que
apresentamos o projeto à Fundação Cultural de Curitiba. Embora o enquadramento
da biografia à Lei Rouanet tenha sido aprovado graças à grande importância que
teve o Visconde na História do Brasil, o projeto apresentado à FCC foi recusado
por... “não apresentar interesse à História do Paraná”, mesmo que na obra
estejam citados nomes e atos de paranaenses como Zacarias de Góis e Vasconcelos, Wilson Martins, David Carneiro, Aramis Millarch e outros de relevante importância. É
de surpreender a ignorância das senhoras integrantes da comissão da FCC que
indeferiu o processo “importante para o Brasil, mas não importante para o
Paraná”, como se o Paraná não fosse o Brasil.
Eu e minha coautora perdemos ânimo,
tempo e dinheiro. Agora teremos que encontrar algum outro meio de tornar a
biografia uma realidade.
40 das 620 obras que
citam o Visconde de Souto
Neste ínterim, vou adiantar aos interessados
os títulos e respectivos autores de alguns dos seiscentos livros que mencionam
o Visconde de Souto, e o que dizem a respeito dessa figura de grande relevância
na História do Brasil e no seu sistema financeiro.
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“A Câmara dos Deputados”, de Afonso
Arinos.
FOTO 1 - Afonso Arinos de Melo Franco
(1905-1990) foi jurista, político, historiador, ensaísta, membro da Academia
Brasileira de Letras e autor da famosa Lei Afonso Arinos contra a discriminação
racial. No livro acima, refere-se ao Visconde de Souto.
Além da versão em inglês do livro
acima, "The Chamber of Deputies of Brazil", Afonso Arinos referiu-se
ao Visconde de Souto também nos livros "Problemas Políticos",
"Rodrigues Alves: apogeu e declínio do presidencialismo", e
"História do Banco do Brasil" (este último em coautoria com Cláudio
Pacheco).
Diz Afonso Arinos na página 47:
“Aquele ano de 1864 assistiria a dois abalos tremendos, um interno e outro
externo, rompidos subitamente sem previsão do Legislativo, nem remédio eficaz
da sua parte. O abalo interno foi a crise financeira iniciada com a “Quebra do
Souto” e o externo marcou-se pela audaz e brutal agressão do Paraguai à nossa
soberania, fatos ocorridos a dois meses de diferença, o primeiro em setembro e
o segundo em novembro. O naufrágio da casa bancária do Visconde de Souto,
segundo estabelecimento depois do Banco do Brasil, arrastou no rodamoinho
outros estabelecimentos, levando o pânico ao Rio de Janeiro. (...) Ocorreram
cenas tumultuosas nas ruas, semelhantes às verificadas no Primeiro Reinado,
quando da queda do Banco do Brasil”.
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“O Rio de Janeiro Imperial”, de
Adolfo Morales de los Rios Filho.
FOTO 02 - Neste livro, o autor
refere-se ao jardim zoológico do banqueiro Souto (na Chácara do Souto) e faz
impressionante relato da capital do Brasil durante o Império.
Na página 164, ao referir-se aos mais
belos jardins das mansões do Rio de Janeiro, lê-se: "O jardim do Souto, o
riquíssimo negociante e banqueiro da Rua Direita, situado no Andaraí, no qual
até existia uma coleção de animais da terra e do estrangeiro e, por isso,
considerado cronologicamente o primeiro dos jardins zoológicos da cidade
carioca". Na verdade, o primeiro jardim zoológico do Brasil.
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“Um Ministério visto por dentro”, de
Antônio Gontijo de Carvalho.
FOTO 3 - Importantíssimo livro sobre
a Quebra do Souto. Esta edição data de 1959.
O autor Antônio Gontijo de Carvalho
publicou cartas de João Batista Calógeras, de 1858 a 1875, dirigidas à esposa e
aos filhos, quando estes se encontravam em Londres. Nas páginas 68 e 69, lê-se:
"Rio, 19 de setembro de 1864. (...) Minha querida Mãe. (...) Minha
bem-amada filha. (...) Imagina que a praça do Rio de Janeiro acaba de passar
pela mais forte crise que ela já tem sofrido. Basta dizer que o Sr. Souto
suspendeu seus pagamentos. (...) A casa do Sr. Souto em São Cristóvão foi
cercada por tropas, porque se temia um ataque dos amotinados. Mas não é tudo. A
desconfiança generalizou-se. Nenhum banqueiro se sentia seguro. (...) Deus quis
que desta vez ainda fosse eu quem fizesse conhecer aos Ministros o projeto da
marcha sobre São Cristóvão. Medidas foram tomadas imediatamente para conjurar o
perigo". As tristes cenas provocadas pela Quebra do Souto repetiram-se em
outras cidades do Império e logo depois também em Portugal.
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“Rio de Janeiro em Prosa &
Verso”, de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.
FOTO 04 - O título do livro não
aparece na capa, mas na lombada. Trata-se de "Rio de Janeiro em Prosa
& Verso", de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, uma edição
comemorativa ao 4º Centenário do Rio de Janeiro em 1965.
Os poetas Bandeira e Drummond fizeram
constar nas páginas 91 e 92 do livro acima: "Possuidor de grande fortuna,
Souto era um espírito liberal e generoso. Tendo construído para sua habitação
um belo palacete na Rua Barão de Monte Alegre, em meio a um grande e bem
tratado parque, aí organizou um jardim zoológico, onde reuniu, à custa de muito
trabalho e grandes despesas, muitas e variadas espécies dos mais interessantes
animais do globo. Até um elefante existiu no jardim zoológico do Souto.
Organizado o parque, ele foi franqueado ao público e, durante muito tempo, foi
o ponto predileto de reunião e passeio dos fluminenses nos domingos. Sem as
facilidades de locomoção que hoje existem, era a pé, pelo extenso caminho do
aterrado, que os caixeiros, que recebiam dos patrões seis vinténs para se
divertir nos domingos, iam passear à Chácara do Souto, o que não lhes custava
nada".
A respeito do trecho acima transcrito, extraído do livro de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, o endereço do Visconde de Souto está incorreto. Não era "Rua Barão de Monte Alegre", mas "Rua do Campo Alegre". E um esclarecimento: o "extenso caminho do aterrado", que foi feito para melhor acesso à Quinta Imperial da Boa Vista (e por extensão à Chácara do Souto), era a região onde mais tarde foi construída a atual Avenida Presidente Vargas.
A respeito do trecho acima transcrito, extraído do livro de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, o endereço do Visconde de Souto está incorreto. Não era "Rua Barão de Monte Alegre", mas "Rua do Campo Alegre". E um esclarecimento: o "extenso caminho do aterrado", que foi feito para melhor acesso à Quinta Imperial da Boa Vista (e por extensão à Chácara do Souto), era a região onde mais tarde foi construída a atual Avenida Presidente Vargas.
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“Artes Plásticas Brasil 94 – Seu
mercado, seus leilões”, de Maria Alice e Júlio Louzada.
FOTO 05 - Este livro é um caso, no
mínimo, curioso. Trata-se do robusto (mais de 1200 páginas) catálogo anual de
artes plásticas de Maria Alice e Júlio Louzada. Em sua edição de 1994, na
página 186, revela que em 30.6.1992 foi leiloada a tela "Visconde de
Souto", pintada por Benedicto Calixto em 1891 (11 anos após o falecimento
do Visconde). Não conseguimos descobrir quem a levou a leilão, nem quem foi o
comprador. Desconhecíamos sua existência. A outra curiosidade é a de que este
mesmo livro, nas páginas 252 e 410, contém dois extensos trechos da minha
autoria, de críticas a dois importantes artistas plásticos, que eu publicara em
minha coluna num jornal de Curitiba, no ano anterior. Em suma, Visconde de
Souto e Francisco Souto Neto, meu trisavô e eu, mencionados num mesmo livro,
mas sem que os assuntos estejam vinculados um ao outro. Impressionante
coincidência!
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“Princesa Isabel – Uma Vida de Luzes
e Sombras”, de Hermes Vieira.
FOTO 06 - Nesta obra de 1990 o autor
relata como foi o dia da família imperial em 10 de setembro de 1864 (quando
ocorreu a Quebra do Souto) e qual foi a reação do imperador, alterando a sua
agenda para aquela data.
Pelo decreto n.º 439 de 24.9.1857, o
Visconde de Souto passou a ser o banqueiro oficial da Casa Imperial. O próprio
Imperador recorria à Casa Souto quando precisava de algum empréstimo, o que é
confirmado por vários autores. No livro acima, Hermes Viera também comenta esse
fato, ao narrar as reações da Corte à Quebra do Souto, ocorrida no dia 10 de
setembro de 1864. O Imperador preparava-se para um passeio de barco até a Barra
de Piraí, levando as duas princesas com os respectivos noivos (Conde d'Eu e
Duque de Saxe), acompanhados do General Dumas, Condessa de Barral e Cristiano
Otoni, quando foi comunicado de que o Souto suspendera os pagamentos da sua
casa bancária. Escreve Hermes Vieira na página 40: "D. Pedro, que
pretendia acompanhá-los, desiste. Segundo Auler, por demais preocupado com as
notícias que lhe chegaram de aperturas financeiras do banqueiro António José
Alves Souto, 'a cujo crédito o imperador pessoalmente recorre para empréstimos,
em momentos difíceis' ".
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“Vida e Obra do Conselheiro Mayrink”,
de Francisco de Paula Mayrink Lessa.
FOTO 07 - O neto do Conselheiro
Mayrink, autor deste livro, conta que a capela hoje conhecida como Capela
Mayrink, foi mandada construir pelo Visconde de Souto, quando se tornou
proprietário da Fazenda Bela (ou Boa) Vista, na Serra da Tijuca (hoje Floresta
da Tijuca... ou Parque Nacional da Tijuca).
Além de descrever como era a mansão
que pertenceu ao Visconde de Souto e, muitos anos mais tarde, ao Comendador
Mayrink, o autor dá a sua versão para a jocosa história dos papagaios. Este é
um trecho encontrado na página 130: "A 'Quebra do Souto', que até os
papagaios anunciavam, repetindo pelo Brasil afora, o que ouviam junto deles
dizer, foi, por suas ruinosas consequências, o mais marcante episódio da
crônica comercial do Rio de Janeiro. (...) Conta um jornalista da época que
indo a uma longínqua cidade do país, entrou num casebre onde havia no alto de
um tabique um papagaio que, ao vê-lo, baixando a cabeça, cochichou-lhe grave:
'O Souto quebrou!' ".
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“Visconde de Itaboraí, a Luneta do
Império”, de João Lyra Filho.
FOTO 08 - Publicado em 1985.
Entretanto o próprio Lyra Filho, no livro ao lado, faz elogios inquestionáveis
à honradez do Visconde de Souto. Diz ele: "A influência de Alves Souto
alcançava a intimidade privativa da Corte. O próprio imperador tornou-se
sensível ao seu infortúnio. [...] D. Pedro II era um homem austero e regrado;
não se animaria à solidariedade que prestou ao banqueiro falido se não o
tivesse em boa conta [...]". (LYRA FILHO, 1985, p. 166).
Embora João Lyra Filho tenha se
estendido bastante sobre o Visconde de Souto em "Visconde de Itaboraí, a
Luneta do Império", cometeu alguns equívocos a respeito de António José
Alves Souto, além de mostrar-se mal-humorado em seus escritos. Por exemplo, diz
na página 164: "A residência de Alves Souto, na rua Nova da Imperatriz,
era uma chácara atraente que se prestava ao refinado convívio de gente
prestigiosa; sua casa bancária, preferida pela gente interessada em
afortunar-se a qualquer custo, funcionava na Rua Direita, centro nevrálgico da
vida comercial. Alves Souto havia conseguido elevar o seu status às
culminâncias do Poder Público, desfrutando da estima do próprio Imperador, que
lhe concedeu o mesmo título de visconde ostentado por Itaboraí".
Dois erros comete o autor no trecho
acima: o Visconde de Souto morava na Rua do Campo Alegre. A entrada para o seu
zoológico se fazia pela Rua Nova do Imperador, e não "Rua Nova da
Imperatriz", que nunca existiu. O maior erro, porém, é este: D. Pedro II
não concedeu o título de visconde ao Souto, como pensa João Lyra Filho, mas o
Rei de Portugal, Dom Luís I, em decreto de 12 de dezembro de 1862. O autor de
"Visconde de Itaboraí, a Luneta do Império" comete alguns outros
equívocos.
João Lyra Filho é um dos poucos
autores que escrevem sobre o Visconde de Souto sem muita simpatia. Ainda assim,
e da mesma maneira em relação aos outros poucos que se referem acidamente ao
Visconde de Souto, tem espaço no livro biográfico que eu e minha prima estamos
escrevendo. Nós estamos transcrevendo também todas as opiniões contrárias ao
Visconde de Souto, imparcialmente, para que o futuro leitor conheça os dois
lados da questão.
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“Parque Nacional da Tijuca”, de
Carlos Manes Bandeira.
FOTO 09 - Carlos Manes Bandeira,
nesta obra de 1994, conta a história da Fazenda Bela Vista, na Serra da Tijuca
(hoje Floresta e Parque Nacional da Tijuca), que o Visconde de Souto comprou em
1850 e onde mandou construir, ao lado da mansão, uma capela hoje conhecida como
Capela Mayrink.
Manes Bandeira, além de, na página
77, subtitular a história do Parque Nacional da Tijuca com nome de "O
VISCONDE ALVES SOUTO", nas páginas 103 e 104 conta a história da Fazenda Bela
(ou Boa) Vista, e diz que o Visconde de Souto, em 1851, "à direita do
casarão, mandou construir uma capela, hoje Capela do Mayrink, em louvor de
Nossa Senhora do Belém". O autor errou em um ano a data da construção da
capela, que efetivamente ocorreu em 1850. Além disso, ele descreve a mansão
(que era usada só nos domingos em que a família ia "veranear" na
Serra da Tijuca): "Era um casarão de forma cúbica, estilo colonial
(colunas toscanas), com muitas janelas, parecendo um mosteiro do Século
XVIII".
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“Floresta da Tijuca”, de Pedro da
Cunha Menezes.
FOTO 10 - Divertido e criativo livro
de Pedro da Cunha e Menezes (edição de 1999) que transporta para o presente os
antigos donos da Serra da Tijuca, hoje Floresta da Tijuca.
Com bom humor, imagina Cunha e
Menezes: "...o Visconde de Bonfim reclamava que agora só via a Floresta de
baixo, bonita vista é verdade, o Visconde Alves Souto espinafrava o rival Mauá,
já Mauá garantia preferir a Mantiqueira à Tijuca (...)".
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“A Vida do Barão do Rio Branco”, de Luís
Viana Filho.
FOTO 11 - O Barão do Rio Branco,
quando menino e adolescente, encontrava-se com os filhos do Visconde de Souto,
aos domingos, na Fazenda Bela Vista. Depois da "Quebra do Souto", já
barão e um dos mais influentes políticos do Império, manteve a amizade não só
com os filhos, mas também com o próprio Visconde de Souto, e continuou
frequentando a casa como se fosse um familiar (isto é também relatado no livro
"José Cardoso Vieira de Castro: antes e depois do seu julgamento",
que vai escaneado abaixo).
Ao comentar a adolescência de Juca
Paranhos (o futuro Barão do Rio Branco), Luís Viana Filho escreveu na página
28: "E Teresa Paranhos, que o tinha como 'o melhor dos filhos', e cuja
prole numerosa não a impedia de ter os salões abertos para os amigos do marido,
devia sentir-se satisfeita ao ver as boas relações desse filho com os vultos
prestigiosos da política. Alguns, como o glorioso Caxias e seu irmão o Visconde
de Tocantins, Eusébio de Queiroz e o poderoso Visconde de Souto chegaram mesmo
a afeiçoar-se àquele estudante de maneiras polidas (...)". No final do
livro, na página 315, o autor comenta o diário do Barão do Rio Branco datado de
1903, em Petrópolis: "Lembra a infância, o pai, alguns amigos com os quais
passeara na Cascatinha, o aprazível sítio onde veraneava o Visconde de Souto,
cuja falência, em 1864, abalara o país". Luís Viana Filho escreveu dois
outros livros, nos quais voltou a mencionar o Visconde de Souto: "A Vida
de Machado de Assis" e "Três Estadistas: Rui, Nabuco, Rio
Branco".
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“José Cardoso Vieira de Castro, antes
e depois do seu julgamento”, de Vieira de Castro.
FOTO 12 - O título do livro consta na
lombada: "José Cardoso Vieira de Castro: antes e depois do seu
julgamento", edição de 1871 da Typographia Lusitana, da cidade do Porto,
Portugal. Nas páginas 35 e 36 atesta uma visita feita ao Visconde de Souto, em
sua residência, por Vieira de Castro (que dá o nome ao título deste livro) e
pelo Conselheiro Paranhos (futuro Barão do Rio Branco).
O autor conta como foi a reunião com
o Visconde de Souto: "O Snr. Souto quebra o seu constante isolamento para
convocar a sua família a uma reunião, onde eram estranhos apenas o Snr. Vieira
de Castro e o Conselheiro Paranhos, o primeiro diplomata brasileiro, e que, até
há pouco, esteve à frente do governo provisório do Paraguai".
A história
da compra que fiz deste livro em 2008 pelo irrisório preço de R$28,00 consta da
minha crônica que
publiquei em julho de 2009 e que pode ser lida neste link: https://soutoneto.wordpress.com/2013/01/27/pesquisa-dos-livros-do-google-e-estante-vitual-duas-instituicoes-em-prol-da-memoria/
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“O Norte Agrário e o Império, 1871 –
1889”, de Evaldo Cabral de Mello.
FOTO 13 - Edição de 1999. Na página
111, Evaldo Cabral de Mello, tal como muitos outros economistas e
historiadores, afirma que o Banco do Brasil portou-se como vilão da economia em
muitas épocas: "(...) O Banco do Brasil, contudo, sabia muito bem o que
queria. Assim como, em 1864, ele tirara partido do pânico criado pela falência
do banqueiro Souto para arrancar ao Governo o curso forçado das suas notas,
agora, em 1873, privado do seu poder emissor, ele tencionava obter a
autorização para uma emissão disfarçada. (...) Seria um verdadeiro negócio da
China para o Banco do Brasil, segundo o insuspeito Andrade Figueira, pois a
prorrogação do resgate seria suficientemente rentável para indenizá-lo de
eventuais calotes e ainda deixar-lhe uma boa margem de lucro". Vale
lembrar que no tempo da Quebra do Souto, 1864, o Banco do Brasil emitia
papel-moeda. Pela responsabilidade na crise, teve suspenso o seu poder de
emitir dinheiro, o que lhe representou uma punição.
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“História Geral da Civilização Brasileira,
tomo II, volume 5: Reações e transações”, de Sérgio Buarque de Holanda.
FOTO 14 - Edição de 2004. Ao tratar
da Crise de 1864, conhecida como Quebra do Souto, Sérgio Buarque de Holanda
reconhece, como a maciça maioria dos historiadores, que a culpa não foi de
"certa casa" (a casa bancária popularmente chamada de Casa Souto).
Diz ele na página 121: "A 'Quebra do Souto' teve negativos efeitos
psicológicos em um povo pouco associativo e desconfiado em negócios. A crise
não foi motivada por uma certa casa - várias outras conheceram iguais
vicissitudes - mas pelo sistema financeiro, com o aumento de bancos e as
emissões de papel-moeda". Vale lembrar que Pedro Calmon, em sua vigorosa
obra "História do Brasil", afirma, como também o fizeram outros
historiadores, na página 1731, volume 5, 2ª edição em 1963, que o Visconde de
Souto foi o primeiro banqueiro particular do Brasil.
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“História da Inteligência Brasileira
– volume III (1855 – 1877)”, de Wilson Martins.
FOTO 15 - Wilson Martins, historiador
paranaense, refere-se por duas vezes ao Souto.
Na página 81, diz Wilson Martins:
"Quando os historiadores mencionam a 'súbita' ou 'inesperada' falência da
casa bancária Souto (em cujo turbilhão o próprio Mauá acabou destruído), estão
ignorando fatos que, ao contrário, torna-la-iam matematicamente
previsível".
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“Dicionário Brasileiro de Datas
Históricas”, de José Teixeira de Oliveira.
FOTO 16 - Livro datado de 1950, conta
com bons detalhes como ocorreu a Quebra do Souto em 10 de setembro de 1864.
José Teixeira de Oliveira conta:
"A firma bancária Souto & Cia. suspende seus pagamentos, com o que se
inicia a célebre crise financeira de 1864, conhecida como A QUEBRA DO SOUTO [em
maiúsculas no original] (...) A cidade do Rio de Janeiro foi teatro de cenas que
jamais se repetiram, nem mesmo por ocasião da quebra dos grandes bancos em
1900. Numa bela manhã daquele ano de 1864, a Casa Souto, banco que rivalizava
com o do Brasil, cerrou suas portas. A notícia circulou rapidamente. Correu
gente de todos os cantos da velha cidade semi-colonial e dos arrabaldes, como
se se tratasse de acudir a um incêndio.
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“Bolsa de Valores do Rio de Janeiro –
150 anos – A História de um Mercado”, de Ney O. R. Carvalho.
FOTO 17 - Livro de Ney O. R. Carvalho
que conta que o Visconde de Souto criou a Junta de Corretores do Rio de
Janeiro, que deu origem à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Na página 54 do livro acima,
ilustrada com a foto de um retrato em óleo sobre tela do Visconde de Souto, o
autor revela: "Retratado por Antônio Rodrigues Duarte, o corretor António
José Alves Souto, fundador da Junta de Corretores e Visconde de Souto por
decreto do Rei de Portugal de 1862, foi o protagonista central da mais grave
crise econômica do Império. A falência da sua casa bancária, com perto de 10.000
credores e passivo de 6.350.000 libras, equivalente à metade da dívida pública
interna da época, foi um terremoto econômico que abalou seriamente a praça do
Rio de Janeiro". O autor também publica a gravura de Bertichen denominada
"Chácara do Souto", dizendo: "A chácara onde residia Alves
Souto, na atual Rua Mariz e Barros, era ponto de atração no Rio de Janeiro,
pela excentricidade de ostentar um jardim zoológico particular".
O autor do livro acima, Ney Oscar
Ribeiro de Carvalho, foi o primeiro historiador com quem eu e Lúcia Helena
mantivemos contato por e-mail, ainda em 2007. Ele é um intelectual com muitos
livros editados e constantes publicações em jornais cariocas. Sua colaboração
ao nosso livro é inestimável. Até o cromo da fotografia da tela do Visconde,
que será a capa do livro, foi-nos gentilmente cedido por ele. O pai de Ney O.
R. Carvalho foi presidente da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
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“Semeadura e Colheita”, de Genaro
Rangel.
FOTO 18 - Nesta edição de 1979, o
autor conta como o Visconde de Souto se dedicou aos menos favorecidos pela
sorte. Neste caso, salvando um orfanato do abandono.
A Sociedade Amante da Instrução, que
passou a ser "Imperial Sociedade" quando D. Pedro II resolveu
apoiá-la, não apenas dava instrução às crianças pobres, como também cuidava da
sua saúde, e mantinha um enorme orfanato. Embora tivesse o apoio do Imperador e
de influentes pessoas da Corte, chegou a um ponto em que, sem suportar as
dívidas, estava prestes a fechar. O autor do livro acima, conta quem era o
Visconde de Souto e como socorreu as órfãs, na página 228: "António José
Alves Souto, Visconde de Souto, era um português de boa cepa, chegando ao
Brasil aos 13 anos de idade. Tido como um dos homens mais ricos do Brasil, sua
casa bancária, António José Alves Souto & Cia., era das mais importantes do
país". E na página 227: "O Colégio das Órfãs era sustentado
precariamente. Valeu-lhe, nestas circunstâncias, por demais, os auxílios
prodigalizados pelo Visconde de Souto. Cedeu gratuitamente seu palacete da Rua
da Imperatriz, preparou-o por sua conta, e lá recebeu as órfãs".
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“Notas de um Repórter”, de Ernesto
Senna.
FOTO 19 - Obra muito rara, título
estampado na lombada: "Notas de um repórter", de Ernesto Senna,
edição de 1895, pela Typographia do Jornal do Commercio, de Rodrigues & C.,
Rio de Janeiro.
É neste livro que se baseou Genaro
Rangel ao escrever "Semeadura e Colheita". Escrito em 1895, conta a
história da Imperial Sociedade Amante da Instrução (que mantinha um asilo para
crianças órfãs) e diz: "O Visconde de Souto, que por vezes fizera
importantes donativos, oferecia gratuitamente para estabelecimento de asilo às
órfãs, o seu palacete (...) e quando atroz enfermidade acometeu essas asiladas,
abriu-lhes as portas da sua chácara na Ponta do Caju".
E onde Ernesto Senna, em 1895,
encontrou a notícia? Na revista do Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro
de 1892, que conta: "Era preciso um braço potente para suster a queda da
Amante da Instrução; mas quem viria em seu auxílio? / Quem lhe traria o
socorro? / Ao grito implorador de piedade respondeu o coração generoso do então
abastado e conhecido banqueiro o visconde de Souto, que já por vezes lhe
mandara o seu óbulo e que agora oferecia gratuitamente para asilo das órfãs o
seu palacete da Rua da Imperatriz, por sua conta reformado e preparado para tal
fim. Não satisfeito com esse valioso socorro, responsabilizou-se ainda por
todas as despesas durante um ano. E quando atroz enfermidade acometeu essas
meninas, abriu-lhes as portas da sua chácara na ponta do Caju. / A fatalidade
não deixou perdurar tão salutares benefícios e em 1864 a desastrada quebra do
importante banqueiro estancou à Sociedade Amante da Instrução esse manancial em
que bebia vida e vigor. (REVISTA..., 1892, p. 124).
A revista do IGHB ao descrever em
1892 o episódio acima (28 anos após a Quebra do Souto) já errava ao informar o
endereço do Visconde: "(...) seu palacete da Rua da Imperatriz".
Outros autores ampliaram o erro ao citar o endereço como "Rua NOVA da
Imperatriz". Nem uma, nem outra. O palacete localizava-se na Travessa
(depois Rua) do Campo Alegre, e a entrada para o zôo é que se fazia pela Rua
Nova do Imperador (não da Imperatriz).
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“Contos Ligeiros”, de Arthur Azevedo.
FOTO 20 - Nas páginas 113 e 114 deste
livro de Arthur Azevedo, publicado em 1974, o conto ambientado no dia em que o
banqueiro Souto quebrou, 10 de setembro de 1864.
Diz Arthur Azevedo na página 113:
"(...) O Souto era o mais acreditado e o mais popular dos banqueiros
havidos e por haver no Brasil; a sua casa (o banco conhecido popularmente como
Casa Souto) inspirava uma confiança absoluta, e não havia homem do trabalho que,
avisado e previdente, não houvesse lá depositado as suas economias. (...) Supor
naquele tempo que o Souto quebrasse era o mesmo que acreditar na quebra do Pão
de Açúcar. O banqueiro na sua casa da Rua Direita não estava menos seguro do
que o famoso rochedo". Mas o Visconde de Souto faliu em 10 de setembro de
1864 e são centenas os autores, historiadores e economistas que há um século e
meio vêm analisando as causas. O fato é que em 1866 o Visconde foi inocentado e
sua reabilitação ocorreu em 1869. O Conselho de Estado reabilitou-o formalmente
em 30 de abril de 1869, e o documento (no acervo do IHGB) vem assinado por José
de Alencar (o famoso escritor, que em 1869 era Ministro da Justiça) e rubricado
pelo Imperador.
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“História da Beneficência Portuguesa
do Rio de Janeiro”, de Américo Alves Moreira.
FOTO 21 - Este livro de 1960 conta
como foi a gestão do Visconde de Souto como presidente da Beneficência
Portuguesa, no Rio de Janeiro (de 1861 a 1865).
Na página 46, lê-se: "Embora
eleita em 28 de dezembro de 1861, a diretoria sob a presidência do Visconde de
Souto só tomou posse em 28 de dezembro de 1862. Tivera a Beneficência, durante
um ano, duas diretorias. A do Visconde da Estrela, pelas razões apresentadas na
primeira parte deste trabalho, estendera sua administração até 15 de dezembro
dfe 1862. Neste biênio da administração do Visconde de Souto, há um fato
histórico a assinalar: a construção de uma enfermaria isolada, no terreno vago
ao lado esquerdo do edifício. Criada para atender à epidemia de varíola e
outras moléstias contagiosas, prestou assinalados serviços à causa da saúde
pública no Rio de Janeiro".
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"Brazil - A Study of Economic
Types", de J. F. Normano.
FOTO 22 - O título deste livro em
inglês (consta na lombada) é "Brazil - A Study of Economic Types", de
J. F. Normano, edição de 1935 por Chapel Hill, The University of North Carolina
Press.
Há livros em inglês, francês,
espanhol, alemão e holandês que contam episódios da vida do Visconde de Souto.
O que se vê acima diz, em alguns trechos: "Mauá’s career was long. He
survived the series of Brazilian crisis in the third quarter of the XIX
century. Even the famous 'Crise de setembro' in 1864, when 'Souto quebrou' did
not influence his position. [...] J. Alves Souto & Co., established in 1834
in Rio de Janeiro, was the most popular private banking house in Brazil. (...)
The failure made a great impression on the country. Travellers relate that in
latter years in the far of 'sertão' the parrots used to repeat: 'O Souto
quebrou' (Souto suspended the payments) – so great was this failure".
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"Pierer's Jahrbücher der
Wissenschaften: Künste und Geberbe", de F. A. Brokhaus.
FOTO 23 - Esta é a página 521 do
raríssimo livro "Pierer's Jahrbücher der Wissenschaften: Künste und
Geberbe", edição de 1868 pela F. A. Brokhaus. Em vez da capa desse livro
escrito em alemão, preferi mostrar uma das suas páginas com os belíssimos
caracteres góticos. Aqui faz-se menção à falência do banqueiro Souto no Rio.
A partir do parágrafo que começa com
"Da in der...", são abordadas as questões da ocupação do Uruguai, a
guerra do Paraguai e a falência da Casa Bancária Souto. Logo em seguida vem
citado o imperador Dom Pedro II. O livro faz uma análise dos problemas
brasileiros no período 1860-1864.
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“História da Burguesia Brasileira”,
de Nelson Werneck Sodré.
FOTO 24 - Nelson Werneck Sodré
referiu-se ao Visconde de Souto em nada menos do que... SETE LIVROS da sua
autoria. Além de "História da Burguesia Brasileira", Sodré escreveu
sobre o Visconde de Souto também em: "Capitalismo e Revolução Burguesa no
Brasil", "Cultura e Sociedade no Brasil", "História da
Imprensa no Brasil", "História da Literatura Brasileira",
"O que se deve ler para conhecer o Brasil" e "Retratos do Brasil"!
Na página 209 de um dos livros acima
referidos, "História da Imprensa no Brasil", Nelson Werneck Sodré
conta a seguinte passagem: "As crises de 1857 e 1864 haviam sobressaltado
o país: ruíra a Casa Souto, com tamanha repercussão, e tão graves
consequências, e generalizadas, que, segundo se dizia, mesmo no interior os
papagaios repetiam: 'O Souto quebrou'. Mauá seria afetado pela segunda, tendo
de cessar suas atividades logo adiante".
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“A Velha Rua Direita”, de Fernando
Monteiro.
FOTO 25 - Este livro, de 1985, é um
dos que relatam de maneira mais condensada e clara os acontecimentos de 10 de
setembro de 1864.
Segundo Fernando Monteiro, na página
74: "António José Alves Souto & Companhia foi fundada pelo depois
Visconde de Souto, que começara como mero corretor de negócios no período
agitado da Regência, impondo-se, por fim, não só como banqueiro opulento e figura
de expressão no mundanismo da cidade, como pela simpatia que a todos inspirava
por seu trato ameno e maneiroso, um 'public relations' nato". Depois de
fazer considerações sobre os documentos que existem a respeito da Quebra do
Souto, diz o autor na página 76: "Quem não quiser recorrer a tão sisudos
documentos, recheados de algarismos e considerações técnicas, poderá liminar-se
à leitura amena de uma das crônicas de Machado de Assis, que também viu a crise
a seu modo (...)".
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“Quatro Séculos de História Econômica
Brasileira”, de Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque.
FOTO 26 - Este livro editado em 1977,
da autoria de Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, diz que a História do
Brasil poderia ser diferente se o Souto tivesse recebido apoio do governo.
O autor, que também se refere ao
Visconde de Souto em outro livro que escreveu (em coautoria com Robert Nicol),
"Economia agrícola: o setor primário e a evolução da economia
brasileira", diz o seguinte no livro acima: "Homens como Mauá, Otoni
e Souto (cuja insolvência bancária precipitou a Crise de 1864) certamente
poderiam ter sido salvos se o governo tivesse proporcionado o necessário apoio.
Embora os três homens mencionados tivessem sofrido falência, a História
reservou-lhes um lugar entre os honestos e honrados".
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“Caixa – Uma História Brasileira”, de
Eduardo Bueno.
FOTO 27 - Este livro de Eduardo Bueno
é tão grande que só é possível escanear parte da sua capa. Ele conta a
importância da atuação do Visconde (então ainda Comendador) de Souto na diretoria
que criou a Caixa Econômica Federal.
O Souto fez parte da primeira
diretoria da Caixa Econômica Federal. As primeiras reuniões foram realizadas na
sua casa e, como o governo não liberava o dinheiro para que fosse montada a
primeira agência, ele não só conseguiu o espaço para tal, como também obteve os
móveis na Câmara dos Deputados e pagou as despesas da reforma com dinheiro do
próprio bolso, fiscalizando ele mesmo as obras. Dentre outros detalhes, o autor
Eduardo Bueno escreveu na página 23: "(...) A Caixa Econômica tem suas
dívidas para com o Comendador Alves Souto: além de ceder os aposentos de sua
residência para cerca de dez reuniões do Conselho, foi ele quem providenciou a
mobília da sala da Câmara dos Deputados, no prédio da Cadeia Velha (onde
atualmente se ergue o Palácio Tiradentes), na Rua da Misericórdia, onde ficara
decidido que a Caixa, na falta de local mais apropriado, iniciaria suas
atividades".
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“Museu da Caixa Econômica Federal”,
de Antônio Bento e Cláudio Estrella.
FOTO 28 - Outro importante livro é
"Museu da Caixa Econômica Federal", editado em 1980, que reproduz as
duas primeiras atas que deram origem àquela instituição. Graças a essas atas
preservadas no acervo da CEF, sabe-se que a Caixa Econômica nasceu na residência
do Visconde de Souto, onde, por falta de outro espaço, se realizavam as
reuniões do "conselho" (hoje chamaríamos de "diretoria"), e
que foi ele, o Visconde, quem obteve os móveis para a primeira agência e que,
com dinheiro do próprio bolso, mandou realizar as obras e as fiscalizou
pessoalmente, porque o Ministério não liberou a verba para fazer nascer a Caixa
Econômica. Tudo registrado em duas atas.
Em vez da capa do livro, fica mais
interessante ilustrar o espaço com a primeira das duas atas. Nesta,
registra-se: "Ata da Reunião do Conselho Fiscal e Inspetor da Caixa
Econômica e Monte de Socorro. Aos dezesseis dias do mês de maio de mil
oitocentos e sessenta e um, em sala franqueada pelo Sr. Comendador António José
Alves Souto na casa de sua residência na Rua Direita, sendo presentes os Exmºs
Srs. visconde de Bonfim, barão de Itamaraty, veador José Joaquim de Lima e
Silva Sobrinho. O Exmº Sr. Presidente visconde de Albuquerque declarou que o
Governo Imperial de posse da planta e orçamento das despesas das obras que se
tem de fazer na casa destinada para a Caixa Econômica e Monte de Socorro, havia
aprovado tanto a planta como o dito orçamento, mas faltando ainda participação
oficial, era necessário por ela esperar, mesmo para se exigir do respectivo
Ministro a quantia suficiente para a mesma obra. O Sr. Comendador António José
Alves Souto, solícito e oficioso como costuma ser, ofereceu-se desde logo
ordenar as obras e fiscalizar os trabalhos. Aceita com agradecimento tão
generosa oferta, passou o Conselho a fazer a nomeação dos empregados que
faltavam. Para lugar de guarda-livros foi nomeado José Narciso de Oliveira;
para avaliador, Antonio José de Souza Almeida; e para contínuo sem vencimentos
de ordenado, Paulino Manoel d’Oliveira. E por nada haver mais do que tratar,
deu por finda a sessão da qual se lavrou esta ata. / (ass.) Visconde
d’Albuquerque. / J. J. de Lima e Silva Sobrinho – Secretário". (MUSEU DA
CAIXA..., 1980, p. 22).
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“Um Funcionário da Monarquia – Ensaio
sobre o Segundo Escalão”, de Antonio Candido.
FOTO 29 - O autor, Antonio Candido, é
considerado o mais importante crítico literário do Brasil. Nascido em 1918
(portanto, com 98 anos em 2016), continua atuante, e com frequência os maiores
jornais do Rio e São Paulo têm dedicado páginas inteiras ao estudo das suas
obras e opiniões.
Antonio Candido (assim mesmo, sem
circunflexo nos dois nomes), neste livro editado em 2002, além de publicar o
retrato do Visconde de Souto ocupando a metade da página 151, refere-se, na
página 131, ao tempo em que seu biografado, Antônio Nicolau Tolentino, era
conselheiro (isto é, diretor) da Caixa Econômica Federal, na mesma gestão do
Visconde, justamente quando ocorreu a Quebra do Souto. Segundo Antonio Candido:
"Em 1864 perdeu bastante dinheiro na falência do Banco Souto, de onde,
apesar de advertido, não quisera retirá-lo por solidariedade ao proprietário [o
Visconde de Souto], amigo e ex-colega no Conselho da Caixa Econômica".
Raro exemplo de amigo e cavalheiro.
Vale acrescentar que minha prima
Cybelle Moreira de Ipanema está mencionada na página 214 deste livro, em
agradecimentos, como colaboradora. Cybelle é viúva do meu saudoso primo
Marcello de Ipanema, que era bisneto do Conde de Ipanema e trineto do Visconde
de Souto. Atualmente Cybelle é diretora do IHGB e presidenta do IHGRJ.
Historiadora, é autora de um sem número de livros (também em coautoria com
Marcello de Ipanema).
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“Barão de Mauá, o Empreendedor”, de
Denise Carvalho et al.
FOTO 30 - "Barão de Mauá, o
empreendedor" é outro livro de tão grandes dimensões, que sua capa não
pode ser inteiramente escaneada. Como no livro anterior ("Um Funcionário
da Monarquia: ensaio sobre o segundo escalão"), tem a metade da sua página
118 ocupada por um retrato do Visconde de Souto, o mesmo que aparece também na
obra "Bolsa de Valores do Rio de Janeiro - 150 Anos - A História de um
Mercado", e que será a capa do meu livro em coautoria com Lúcia Helena.
Os nomes do Barão de Mauá e do
Visconde de Souto, que foram pares de diretoria em certas entidades, e que
chegaram a ser sócios em alguns negócios, estão entrelaçados na História do
Brasil como empreendedores e construtores, como será visto no livro a seguir
escaneado, "Filha branca de mãe preta". No livro acima, o autor
atribui a Quebra do Souto a uma crise internacional, dizendo, na página 123:
"Em setembro de 1864, uma nova situação de crise internacional, combinada
com instabilidade interna, levou à quebra da Casa Souto, alarmando seus quase
10 mil clientes e gerando um efeito dominó por toda a economia imperial".
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“Filha Branca de Mãe Preta: a
Companhia da Estrada de Ferro D. Pedro II (1855-1865)”, de Almir Chaiban
El-Kareh.
FOTO 31 - Este livro, de 1982, revela
que em 1861 o Visconde de Souto financiou a primeira estrada macadamizada do
Brasil, que recebeu o nome de Estrada União e Indústria. Foi considerada a mais
importante obra de engenharia de toda a América Latina. A estrada ligava o Rio
de Janeiro à atual Juiz de Fora, em Minas Gerais. Um detalhe dessa história
consta na página 119, mas outros autores referam-se mais especificamente à
Estrada União e Indústria. O livro acima centra-se mais na primeira estrada de
ferro do Brasil, a “Estrada de Ferro Dom Pedro II”.
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“Mauá, empresário do Império”, de
Jorge Caldeira.
FOTO 32 - Nesta edição de 1995, o
autor refere-se à Quebra do Souto e a consequente falência de cem outras
empresas, e todos os malefícios decorrentes desse episódio. Mas também
transcreve, nas páginas 242 e 243, uma extensa declaração do Visconde de Souto,
que conta como se comportava a economia do Império na primeira metade do Século
XIX.
Além de transcrever, nas páginas 242
e 243, uma extensa declaração do Visconde de Souto sobre a vida comercial do
Rio de Janeiro, também transcreveu, na mesma página 243, uma frase que
evidencia o repúdio do Visconde ao tráfico negreiro, e sua simpatia pelo
abolicionismo: "(...) O resultado desta diferença de concepção, segundo o
Visconde de Souto, foi uma verdadeira libertação dos produtores de um esquema
que 'à custa do tráfico nefando de escravos e da usura que só os comércios
ilícitos podem suportar, ditava a lei à praça e impunha sua vontade aos
governos' ".
O Barão de Mauá foi padrinho de casamento do 6º filho do Visconde de Souto, Francisco José Alves Souto, bisavô de Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini.
O Barão de Mauá foi padrinho de casamento do 6º filho do Visconde de Souto, Francisco José Alves Souto, bisavô de Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini.
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“Registros Escravos”, de Lilia Moritz
Schwarcz com Lúcia Garcia.
FOTO 33 - Lília Moritz Schwarcz, a
mesma autora de "O Sol do Brasil", registra que o Visconde de Souto
às vezes comprava escravos com o objetivo de alforriá-los, raro exemplo de
humanitarismo. Lília Moritz Schwarcz também menciona o Visconde de Souto no livro
"D. Pedro II", que escreveu em coautoria com José Murilo de Carvalho
e Élio Gaspari.
Nas páginas 215 e 216 do livro, a
autora, baseada na "Semana Illustrada" nº 87, de 1862, transcreve a
notícia que recebeu o seguinte título: "Comemoração de um ato de
generosidade pública - 7 agosto 1862". A notícia referia-se a duas
crianças negras que seriam vendidas em público, e que provavelmente seriam
separadas da mãe, que também seria vendida numa espécie de leilão. Alguns
homens de bem, abolicionistas, começaram a arrecadar dinheiro no Rio, para
conseguirem comprar a liberdade das crianças (isto é, "forrá-las" ou
"alforriá-las"). No livro, lê-se: "Apenas principiou-se a Praça
apresentou-se um caixeiro do Sr. Comendador António José Alves Souto, para, em
nome e por conta de seu amo, forrar as duas meninas Guilhermina e Marcelina com
a condição de que o dinheiro já apurado para esse efeito seria aplicado para a
alforria da mãe". Mãe e filhas ganharam a liberdade, e as meninas foram
educadas pela Sociedade dos Amantes da Instrução (que era mantida pelo então
Comendador, depois Visconde de Souto).
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“História da Comissão Científica da
Exploração”, de Renato Braga.
FOTO 34 - Este livro de 1982 é o
único a analisar outra obra, denominada "Trabalhos da Commissão Scientífica
de Exploração", da autoria de Francisco Freire Allemão e Manoel Freire
Allemão, editada no Rio de Janeiro em 1862 pela Typographia Universal de
Laemmert, onde se relata a colaboração pessoal do Visconde de Souto neste que
foi o mais importante evento científico do Brasil durante o Segundo Reinado.
O autor Renato Braga transcreve as
palavras do zoólogo Manoel Ferreira Lagos, em ofício dirigido ao Imperador:
"Obedeço à ordem de Vossa Majestade Imperial, apresentando desde já um
relatório sucinto dos trabalhos em que me ocupei como membro da Comissão
Científica encarregada de explorar o interior de algumas Províncias do Império
menos conhecidas. [...] No número de mamíferos que alcançamos vivos havia um
tamanduá-bandeira, mas infelizmente morreu dois dias antes do nosso embarque.
No art. 11.º das instruções dadas à Seção Zoológica, recomendava todas as
diligências a fim de serem apanhados vivos alguns animais menos comuns ou mais
curiosos, cujos hábitos conviesse indagar, e remetidos para esta Corte, atenta
a proposta do Exm.º Sr. Conselheiro Cândido Batista de Oliveira de criar no
Jardim Botânico um parque zoológico, à imitação de outros existentes em nações
cultas. Reconhecendo a utilidade do preceito e cumprimentando-o como comanda o
dever, não poupei esforços que deram em resultado nos Cariris, a reunião de
mais de cem animais, entre quadrúpedes, aves e répteis; e receando entregá-los
a indivíduos que deles pouco cuidassem, tencionava conduzi-los pessoalmente
quando regressássemos. Com bastante dor, à vista de tanto trabalho perdido como
deram, os vi ir morrendo sucessivamente durante a viagem e alguns mesmo depois
de chegarem à capital, de maneira que poucos restaram, os quais aqui por ordem
do governo imperial entreguei ao Sr. Dr. Frederico Leopoldo César Bulemarque,
diretor do Museu Nacional, donde foram passados, por falta de acomodação, para
a chácara do Sr. Comendador António José Alves Souto: este ilustre cavalheiro,
além de outros serviços prestados ao nosso País, não se tem poupado a incômodos
e despesas avultadas a fim de conservar vivos os mais notáveis animais, tanto
exóticos como indígenas, apesar dos mil embaraços com que luta para satisfazer
a sua louvável paixão, sem lhe arrefecer isso o ânimo, continua sempre com
ardor a prosseguir na carreira encetada. Franqueando à curiosidade pública o
seu jardim zoológico, o Sr. Comendador Souto não se esquece também de remeter
para o Museu Nacional os animais que morrem, e desta maneira vai lucrando
aquele estabelecimento público". Alguns dos animais do Visconde de Souto,
taxidermizados, encontram-se até hoje expostos no Museu Nacional.
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“O Ouro, o Café e o Rio”, de Brasil
Gerson.
FOTO 35 - Este livro de Brasil Gerson (o cultuado autor
de "História das ruas do Rio de Janeiro") dá-nos um raro exemplo de
honestidade e profissionalismo.
A história é a seguinte: Brasil
Gerson escreveu "História das ruas do Rio de Janeiro", que foi
lançado pela Editora Souza em 1954, em cuja página 330 diz: "Os terrenos
da casa do Chalaça confinavam com os da Quinta Imperial e também com os da
chácara do Comendador António Alves Souto, na qual foi aberta a Rua do Souto,
que no final do novecentismo passou a denominar-se Senador Furtado". O
livro tinha 350 páginas. Quando tratou de publicar a 2ª edição, tinha feito tantos
acréscimos, que o livro passou de 350 para 580 páginas. Como as mudanças foram
muito profundas, o autor usou de uma brilhante solução: em vez de chamar-lhe de
"2ª edição", alterou-lhe o título para "História das ruas do
Rio" (SEM o "de Janeiro"). E nessa obra contou a história da
Capela Mayrink, sem mencionar o nome do Visconde de Souto. A partir daí, surgiu
um fato pitoresco: ao lançar em 1970 o livro acima,"O ouro, o café e o
Rio", acrescentou-lhe o seguinte apêndice (na pág. 147): "NOTAS ADITIVAS
SOBRE HISTÓRIA DAS RUAS DO RIO: Difícil que seria agora mais uma edição da
'História das ruas do Rio', que com o sertão e os subúrbios chegou a 580
páginas, que se aproveite esta oportunidade para algumas correções e
acréscimos". E na pág. 153, após várias correções, disse: "E antes
que seja tarde: a capela tida como 'do' Mayrink, vide pág. 453, já existia em
1860, segundo pesquisa recente do 'Guia Rex', na chácara que fora inicialmente
do Visconde António Alves Souto, que não figurava na relação dos titulares do Império
brasileiro".Deste modo, com elegância, Brasil Gerson corrigiu a sua
omissão ao Visconde de Souto no episódio da Capela Mayrink.E a propósito da
última frase de Gerson: o Visconde não figurava na relação dos titulares do
Império brasileiro, simplesmente porque... era visconde pelo reino de Portugal,
não pelo império do Brasil.
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“Lucíola”, de José de Alencar.
FOTO 36 - José de Alencar, que era
amigo do Visconde de Souto, citou-o em dois livros: "Lucíola" e
"O que é o casamento?". Embora sem mencionar diretamente o Visconde
em "O Crédito", sabe-se que esta obra foi metaforicamente nele
inspirada.
Nesta bem elaborada (e acessível)
edição da L&PM POCKET, na página 37, está o seguinte diálogo: " - Em
todo caso, ainda que ela fosse de uma mesquinhez sórdida, as jóias não se
gastam pelo uso. - Se ela as vende! - Não é possível! - Também eu duvidei por
muito tempo, mas tive a prova. Há aqui um Sr. Jacinto que fez sociedade com
ela, tudo que lhe dão, até roupas, é imediatamente reduzido a dinheiro. Lúcia deve
ter por aí em casa do Gomes ou do Souto seus trinta ou quarenta contos. -
Guarda para a velhice, se lá chegar". "Casa", no texto acima,
quer dizer "casa bancária", isto é, banco. E os nomes mencionados,
Gomes e Souto, eram, com Montenegro, os três banqueiros mais conhecidos da
capital do Império.
Em edições recentes, as editoras
Ática e Martin Claret incorreram num erro imperdoável: trocaram o nome
"Souto" por "Couto", num flagrante desrespeito ao livro
original de José de Alencar. É assim que editoras incompetentes vão errando (e
induzindo ao erro) no curso da História.
Escrevi às Editoras Ática e Martin
Claret, informando-lhes do erro que estavam cometendo, e pedindo-lhes corrigir
o nome de Couto para Souto, para que a obra permanecesse fiel ao original de
José de Alencar. Ambas agiram muito corretamente, desculparam-se pelo engano e
agradeceram pela colaboração, comprometendo-se a corrigir o erro nas suas
próximas edições. Passam a merecer, portanto, o nosso voto de confiança.
Um detalhe interessante a
acrescentar: após a Quebra do Souto, e instaurada uma comissão de inquérito
para estudar as causas da crise, o Visconde de Souto foi inocentado em 1866. O
Conselho de Estado reabilitou-o formalmente em 30 de abril de 1869, e o
documento (no acervo do IHGB) vem assinado por José de Alencar (o famoso
escritor), que em 1869 era Ministro da Justiça, e rubricado pelo Imperador.
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“Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima
Barreto.
FOTO 37 - O Visconde de Souto foi
mencionado por Lima Barreto neste que é um dos mais significativos exemplos da
Literatura Brasileira, "Triste fim de Policarpo Quaresma".
Na página 26 desta edição de
"Triste fim de Policarpo Quaresma" pela Martin Claret, publicada em
2009, lê-se: "O passeio era demorado e filosófico. Conversando com o preto
Anastácio, que lhe servia há trinta anos, sobre coisas antigas - o casamento
das princesas, a Quebra do Souto e outras -, o major continuava com o
pensamento preso aos problemas que o preocupavam ultimamente".
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“Quincas Borba”, de Machado de Assis.
FOTO 38 - Esta edição de
"Quincas Borba", pela Difusão Cultural do Livro, é de 2006. No
capítulo CVIII, página 88, o banqueiro Souto é mencionado.
Machado de Assis deu o seguinte
diálogo a seus personagens de "Quincas Borba": "-(...) Falo-lhe
por ser amigo; não dirá algum dia que não foi avisado em tempo. De que há de
viver, se estragar o que possui? A nossa casa pode cair. - Não cai, acudiu o
Rubião. - Pode cair; tudo pode cair. Eu vi cair o banqueiro Souto, em
1864".
Machado de Assis mencionou o Visconde
de Souto por diversas vezes. Cita-o também na peça teatral "Hoje avental,
amanhã luva", em "O Velho Senado", em crônicas reunidas no livro
"A Semana: Crônicas 1892-1893", em e em outras crônicas organizadas
por John Gledson no livro "Bons Dias!", adiante escaneado.
Estes são os títulos dos livros de
autores diversos, que têm algo em comum: neles, o assunto é Machado de Assis...
e em TODOS ELES o Visconde de Souto é mencionado: MACHADO de Assis, a pirâmide
e o trapézio (Raymundo Faoro); MACHADO de Assis e o hipopótamo: biografia e
análise (Gondim da Fonseca); MACHADO de Assis e o hipopótamo: uma biografia
honesta e definitiva (Gondim da Fonseca); MACHADO de Assis e o hipopótamo: uma
revolução biográfica (Gondim da Fonseca); MACHADO de Assis, escritor em
formação: a roda dos jornais (Lúcia Granja); MACHADO de Assis: ficção e
história (John Gledson); MACHADO de Assis: impostura e realismo (John Gledson);
BONS dias! Crônicas, 1888-1889 (Machado de Assis); BONS dias!: o funcionamento
preciso da inteligência em terra de relógios desacertados; as crônicas de
Machado de Assis (Gabriela Kvacek Betella); DICIONÁRIO de Machado de Assis:
história e biografia das personagens (Francisco Pati); DISPERSOS de Machado de
Assis (Machado de Assis, Jean Michel Massa), ECONOMIA em Machado de Assis: o
olhar oblíquo do acionista, A (Gustavo H. B. Franco, Introdução e Comentários);
HOJE avental, amanhã luva (Machado de Assis); JUVENTUDE de Machado de Assis
(1839-1870): ensaio de biografia intelectual, A (Jean Michel Massa, Marco
Aurélio de Moura Matos); LA JENEUSSE de Machado de Assis (1837-1870): Essai de
biographie intellectualle (Jean Michel Massa); OBRA completa de Machado de
Assis (Machado de Assis, Afrânio Coutinho); OBRA completa: romance (Machado de
Assis, Jorge de Lima, Afrânio Coutinho); OBRAS ilustradas de Machado de Assis:
Quincas Borba, Dom Casmurro (Machado de Assis); PHILOSOPHER or dog? (Machado de
Assis); POR um novo Machado de Assis: ensaios (John Gledson); QUINCAS Borba
(Machado de Assis); QUINCAS Borba: roman (Machado de Assis, Georg Rudolf Lind);
RIO de Assis: imagens machadianas do Rio de Janeiro (Machado de Assis, Aline
Carrer, Pedro da Cunha e Menezes); SEMANA: crônicas 1892-1893, A (Machado de
Assis, John Gledson), TEATRO completo (Machado de Assis, Teresinha Marinho,
Carmen Gadelha, Fátima Saadi); THE DECEPTIVE realism of Machado de Assis: a
dissenting interpretation of Dom Casmurro (John Gledson); VELHO Senado, O
(Machado de Assis; Brasil: Congresso Nacional); VIDA de Machado de Assis, A
(Luís Viana Filho); VIDA e obra de Machado de Assis: aprendizado (Raimundo
Magalhães Júnior); VIDA e obra de Machado de Assis: ascensão (Raimundo
Magalhães Júnior).
Todos esses livros acima relacionados
(cerca de 40), envolvendo Machado de Assis, mencionam o Visconde de Souto em
menor ou maior profundidade. Entretanto, a totalidade dos livros envolvendo
outros autores e que citam o Souto, é de mais de 600.
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“Bons Dias!”, de Machado de Assis
(com notas de John Gledson).
FOTO 39 - John Gledson, que organizou
estas crônicas de Machado de Assis (numa das quais Machado se refere ao
Visconde de Souto) escreveu seis diferentes obras onde citou o Visconde. Nesta,
"Bons Dias!", ele comenta que Machado de Assis também se referiu por
muitas vezes ao Visconde. E aqui encerro a mostra das capas dos livros que
citam o Visconde de Souto, que se estendem por centenas e centenas de títulos,
que não caberiam no espaço deste álbum, que comporta apenas cem fotografias.
A Quebra do Souto impressionou muito
profundamente a Machado de Assis, tendo se tornado assunto recorrente em sua
produção literária. Ainda jovem conhecera pessoalmente o Visconde de Souto e
guardava dele a lembrança da simpatia e simplicidade. Quarenta anos depois da
Crise de 1864, e mais de dez após o falecimento do Visconde, o banqueiro
continuava presente em seus escritos. Gustavo Franco, no livro "A Economia
em Machado de Assis – O Olhar Oblíquo do Acionista", transcreve a crônica
publicada originalmente em “A Semana”, 23.10.1892, na qual Machado volta a
mencionar a Quebra do Souto: "Ah! Se eu for contar memórias da infância,
deixo a semana no meio, remonto os tempos e faço um volume. Paro na primeira
estação, 1864, famoso ano da suspensão de pagamentos. [...] 1864 – ano em que
se deu a “Quebra do Souto”, a que Machado alude em algumas crônicas (nota de
rodapé)".
Em 1908 (ano do nascimento de Arary
Souto, meu pai, bisneto do Visconde de Souto), quase meio século após aqueles
acontecimentos, o dramaturgo Henrique Coelho Neto escreveu e publicou o livro
"Quebranto", uma peça teatral. Nesta, a certa altura, encontra-se o
seguinte diálogo: "Josino – Fala-se, ainda hoje, na Quebra do Souto. E
agora? Clara – Agora é uma pouca vergonha... Josino – Deixa disso, vovó. Agora
a vida é requintada". (COELHO NETTO, 1908, p. 60).
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Primeira página do Jornal do
Commercio de 16 de setembro de 1864.
FOTO 40 - Para que se tenha uma ideia
dos matutinos da época, assim era a 1ª página de um jornal de 1864: somente
texto, em oito colunas, sem nenhuma ilustração.
Esta é a edição de 16 de setembro de
1864 do Jornal do Commercio, quando o Rio de Janeiro continuava sob o impacto
da Quebra do Souto. A notícia era levada às principais províncias do Império, e
a bordo de vapores começava a atravessar o mundo. Seria noticiada até na
Austrália, o mais remoto dos países. Eu e Lúcia Helena temos muitas dezenas de
páginas digitalizadas, que nos foram cedidas pela Fundação Biblioteca Nacional.
Esta foi a única maneira que encontramos para pesquisar os jornais da época. As
páginas desses antigos jornais eram imensas.
Ao concluir, vale registrar que embora a biografia do Visconde de Souto ainda não esteja publicada, já foi mencionada nas respeitadas revistas do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, no link abaixo...
...e do Instituto Histórico e Geográfico do
Rio de Janeiro, neste link:
Diga-se ainda que a biografia já está comentada até mesmo no
programa “Detetives da História”, do The History Channel, o que poderá
ser visto e ouvido no capítulo “O elefante sem identidade”, neste endereço do
YouTube:
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ADENDO ACRESCENTADO EM 29.4.2017
Após a grande decepção com aquilo
que está acima narrado, isto é, com a dificuldade ou falta de empenho da ONG
que contratei para o enquadramento da biografia do Visconde de Souto à Lei
Rouanet – o que foi realizado com sucesso – e a captação de recurso de
patrocinadores – o que, infelizmente, não ocorreu –, para compensar o desengano
tive agora uma grande e grata surpresa ao conhecer a editora PRISMAS que se
interessou pela publicação da obra.
Meu primeiro contato pessoal com
o editor-chefe da PRISMAS, Vanderlei Cruz, ocorreu em 23 de março do ano em
curso, quando levei a ele o “boneco” da biografia do meu trisavô, o visconde de
Souto.
FOTO A –
Vanderlei Cruz e Francisco Souto Neto com o “boneco” da biografia do visconde
de Souto.
Uma semana antes disso, no dia 15
do mesmo mês, minha sobrinha Dione Mara Souto da Rosa, em reunião mensal da
Academia de Letras José de Alencar – ALJA no Palacete dos Leões, apresentou-me
a seus convidados Keetrin Oliveira e Conrado Dittrich, que representavam as
editoras associadas PRISMAS e FRAGMENTOS. Nosso confrade Adriano Siqueira, na
mesma ocasião, apresentou a Anita Zippin, presidenta da Academia, o professor
Mustafá Ibn Ali Kanso, também ligado às referidas editoras.
FOTO B – Reunião
na Academia de Letras José de Alencar. À esquerda, em pé, João Carlos Cascaes.
Ainda à esquerda, sentados, sobrepostos na foto: Tânia Rosa Ferreira Cascaes, Josane Cavallin
e Francisco Souto Neto. Na cabeceira da mesa, Anita Zippin. Em seguida,
continuando da esquerda para a direita: Arioswaldo Trancoso Cruz, Vera Rauta,
Adriano Siqueira, Dione Mara Souto da Rosa, Conrado Dittrich, Keetrin Oliveira
e, em pé, Mustafá Ibn Ali Kanso.
Impulsionado pela simpatia e
receptividade dos convidados referidos, na semana seguinte fui recebido pelo
editor-chefe da PRISMAS, conforme relatei acima, que em poucos dias
apresentou-me o contrato para a edição da biografia. A diagramação e o projeto
gráfico estão sendo executados por Brenner Silva, que já me entregou a arte
final para a capa do livro Visconde de
Souto: ascensão e “quebra” no Rio de Janeiro Imperial, um projeto elegante
e discreto, de muito bom gosto, que encantou a mim e a minha prima coautora
Lúcia Helena Souto Martini, como se vê adiante:
FOTO C –
Capa, quarta capa (contracapa), lombada e orelha da obra, diagramação e projeto
gráfico de Brenner Silva.
Quando a edição da obra se
completar, o seu lançamento em noite de autógrafos ocorrerá provavelmente no
Palacete dos Leões, sede da ALJA. Após dez anos de trabalho e muitas peripécias,
a biografia do Visconde de Souto se tornará realidade graças à editora PRISMAS
que acreditou no seu sucesso.
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