sábado, 30 de janeiro de 2016

"EM HELLBRUNN, AS FONTES MÁGICAS DO PRÍNCIPE-ARCEBISPO MARKUS SITTIKUS", coluna do Comendador FRANCISCO SOUTO NETO no PORTAL IZA ZILLI.

PORTAL IZA ZILLI

Portal Iza Zilli de 31.1.2016

Iza Zilli


Comendador FRANCISCO SOUTO NETO

EM HELLBRUNN, AS FONTES MÁGICAS
DO PRÍNCIPE-ARCEBISPO MARKUS SITTIKUS

Por Francisco Souto Neto

O poderoso príncipe-arcebispo Markus Sittikus (também grafado Marcus Sitticus) von Hohenems (1574-1619) viveu na cidade austríaca de Salzburg, nas cercanias de onde mandou construir um palácio de verão de grande importância arquitetônica e decorado com requintados interiores, o Palácio Hellbrunn, numa época em que o Brasil era ainda uma inexpressiva colônia portuguesa sob o domínio dos reis de Portugal e da Espanha, estes últimos do período filipino quando Portugal esteve sob a administração da coroa espanhola. O Brasil tinha sido dividido em Capitanias Hereditárias com objetivo principal de iniciar a colonização pelos portugueses.

FOTO 1 – Francisco Souto Neto com Palácio Hellbrunn ao fundo.

FOTO 2 – Rubens Faria Gonçalves na entrada do Palácio Hellbrunn.

FOTO 3 – Souto Neto e as janelas do porão do Palácio Hellbrunn.

É impressionante que em tempos tão remotos, há mais de 400 anos, quando na Europa a Santa Inquisição ou Santo Ofício ainda condenava os pobres hereges à perversa e dolorosa morte na fogueira, tenha existido um príncipe-arcebispo que pode ser lembrado por nós como um brincalhão, antes mesmo de o considerarmos o grande mecenas que ele realmente foi, se levarmos em conta os divertidos jogos d’água que mandou instalar ao lado do seu palácio.

FOTO 4 – A fonte da mesa de jantar.

As características das fontes e dos jogos d’água não encontram similares em todo o mundo. O passeio por lá é feito em grupos guiados. A primeira fonte que visitamos foi uma incrível mesa de mármore, ladeada por dez bancos do mesmo material. A mesa, bancos, e o piso ao redor desse cenário, formam o conjunto de uma fonte fantástica... uma fonte disfarçada de mesa com assentos para surpreender os convidados do príncipe-arcebispo, o bem-humorado anfitrião. Ele convidava (o convite era uma ordem) as pessoas a se sentarem, e ele próprio também tomava um assento. Então eram todos colhidos por súbitos jatos d’água que jorravam verticalmente dos bancos (exceto do lugar ocupado pelo príncipe-arcebispo), e de vários pontos ao redor da mesa. Ninguém poderia levantar-se antes que o próprio anfitrião deixasse o seu lugar seguro. Era uma brincadeira sem qualquer conotação de sadismo. Ao contrário, os felizes convivas contariam essas histórias a seus filhos e estes as perenizariam através de muitas gerações. A fonte da mesa é apenas a primeira das dezenas de outras, sempre muito engenhosas e divertidas.

Os jardins de Hellbrunn contêm poços, fontes, lagos, grutas artificiais, várias esculturas e estátuas, quase uma Disneylândia barroca criada com o único propósito de entreter o imensamente rico príncipe-arcebispo de Salzburg e os seus convidados.  As fontes disfarçadas de Hellbrunn foram construídas por pedreiros da própria Salzburg e também da Itália, contratados dentre os melhores artesãos do seu tempo, que executaram as obras sob a orientação de Santino Solari, o engenheiro então mais famoso da Áustria, autor do projeto da Catedral de Salzburg.
A água foi desde o início o tema central no desenho do palácio. Numerosas fontes foram instaladas escondidas na sombra de árvores ou arbustos, ou disfarçadas em estátuas, jorrando de esconderijos inesperados sobre os visitantes distraídos para dar-lhes sustos, e aí está o maior encantamento que essas surpresas provocam nas pessoas.

FOTO 5 – O teatro mecânico.

A eletricidade seria descoberta só alguns séculos à frente. Como funcionavam – e funcionam ainda – as fontes de Hellbrunn? O que faz mover todo o mecanismo das fontes é a energia cinética da água. É a força hidráulica que põe tudo em movimento, como por exemplo o teatro mecânico lá existente, que conta com 138 figuras humanas de madeira que parecem ter vida própria.

FOTO 6 – A coroa que “levita”.

Impossível descrever todas as excentricidades das fontes e jogos d’água. A que mais me impressionou foi a da coroa dourada na forma de um cone, no centro de um gruta, que se eleva com um jato preciso de água, e fica como que pairando aos olhos maravilhados dos presentes, enquanto dá um suabilíssimo giro sobre seu próprio eixo.

São prodígios que podem ser vistos no filme adiante, de apenas oito minutos, que fiz quando lá estive, e que agora se encontra no YouTube neste endereço:


Devo acrescentar que os jardins de traçado italiano são de exuberante beleza, entre lagos e espelhos d’água, contendo conjuntos de variadas flores que se alternam com alamedas formadas por alas de altas e antigas árvores.

FOTO 7 – Rubens Faria Gonçalves e unicórnio no início dos jardins.


FOTO 8 – A exuberância dos jardins de Hellbrunn.


FOTO 9 – Francisco Souto Neto no gazebo de A Noviça Rebelde (The Sound of Music).

Num dos recantos desse vasto jardim está o gazebo que se vê no cultuado filme A Noviça Rebelde (The Sound of Music), com Julie Andrews. Referido gazebo também aparece no meu filme do YouTube acima, evocando o momento em que a filha mais velha do Capitão von Trapp (Christopher Plummer), a adolescente Liesel (Charmian Carr), de 16 anos, canta “I am Sixteen going on Seventeen”.

O Palácio de Hellbrunn só serviu aos arcebispos como uma residência em casos excepcionais. Com seus salões magníficos, os encantadores jardins e as fontes cheias de truques, o palácio foi usado principalmente como o local de celebrações dos prazeres da vida, de luxo e festas, de eventos espetaculares e, mais recentemente, de destaques culturais.

FOTO 10 – O Príncipe-Arcebispo Markus Sittikus Graf von Hohenems.

FOTO 11 – Planta de Hellbrunn.

E assim se encerra a história de um antigo príncipe-arcebispo da vida real, tão antigo e criativo quanto nos contos-de-fadas, cuja memória por acaso se une em tempos recentes ao filme A Noviça Rebelde.

-o-

2 comentários:

  1. Lindo artigo! Salzburg é a terra de Mozart! Que lugar fascinante!

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    1. Oi! Uma ocasião li o seguinte: "Na terra de Mozart, a música brota até das paredes". Há muita verdade nisso. Obrigado por escrever. Um beijo.

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